domingo, 29 de setembro de 2013

Como alguém é capaz de tais atrocidades?


DEFORMAÇÃO MORAL



"O Mal existe. E tem gente que simplesmente não presta."
                                                                                                              Glória Perez







“Como alguém é capaz de fazer isso?” 



Goiânia, 17 de março de 2008. 


Uma denúncia anônima levou dois investigadores de polícia até o apartamento
da empresária de construção civil Sílvia Calabrese Lima, de 42 anos. 

Sílvia foi presa em flagrante por maltratar e torturar uma menina de 12 anos que
morava com ela havia mais ou menos dois anos. 

A agente policial Jussara Assis encontrou a menina com os braços
acorrentados a uma escada de ferro no apartamento da empresária, localizado num bairro nobre da cidade de Goiânia. Uma mordaça de gaze e esparadrapo embebida em pimenta, vários dedos das mãos quebrados, a maioria das unhas arrancadas, marcas de ferro quente pelo corpo e dentes quebrados a marteladas completavam o quadro de atrocidades. Objetos como correntes, cadeados e alicates serviam de instrumentos de tortura, que ocorria de forma sistemática. 

A menina, visivelmente traumatizada, relatou à polícia: “Hoje porque eu não
sequei o banheiro dela, ela me acorrentou”. Ela disse que nunca contou nada porque era ameaçada de morte pela empresária. Também foi presa a empregada Vanice Novais, de 23 anos, acusada de participar dos horrores. Ela alegou que torturava a menina “a mando da patroa”. Num caderno, Vanice registrava o dia e a hora das agressões. 

Após a repercussão do caso, outras meninas (pelo menos quatro) revelaram
que também foram torturadas de forma muito parecida, pela mesma empresária. 

Sílvia, que é filha adotiva, ganhava confiança dos pais de meninas pobres
para depois adotá-las informalmente. Suas promessas eram de oferecer estudos para que as crianças tivessem as mesmas oportunidades que ela teve quando fora adotada. Além disso, alegava querer muito uma menina para cuidar. Pois só tinha filhos homens. Instaladas na casa de Sílvia, as meninas eram submetidas a atos de violência, trabalhos forçados, privações de comida e outros suplícios como ingerir fezes de animais. 

A delegada Adriana Accorsi, responsável pelo caso, declarou à revista Veja:

“Ela é sádica, sente prazer em machucar meninas e em momento nenhum
demonstrou arrependimento pelo que fez.”

Na prisão, em entrevista ao programa Fantástico (Rede Globo), Sílvia
confessou ao repórter Vinícius Dônola a autoria do crime: “Devo e vou confessar em juízo o que fiz...”, “Sabe qual que é a história? Eu era a mandante; ela, a executante (referindo-se à empregada doméstica). Essa é a história. Não tem outra história.” 

Quando perguntada por que agiu daquela maneira com a menina, a agressora
respondeu: “Na minha cabeça, eu não achava que tava torturando, na minha cabeça, eu achava que tava educando”, “Minha vida acabou. Eu sei que vou ficar aqui. Eu tenho noção disso. Eu não sou louca.”

Um parente da agressora disse que desde a infância ela apresenta “distúrbio
de comportamento” e um histórico de problemas. Sílvia foi criada de orfanato em orfanato até ser adotada aos 12 anos de idade. Ainda precoce, já demonstrava ser uma criança com sérias alterações de comportamento. Aos 9 anos foi expulsa de uma instituição porque estava atrapalhando a educação das outras meninas. 

Para o psiquiatra forense Guido Palomba, pessoas como Sílvia costumam
alegar que receberam maus-tratos na infância, mas não é verdade. “São pessoas que são de natureza deformada”, “Elas também não têm nenhum arrependimento”. 

(Mentes perigosas - o psicopata mora ao lado, Ana Beatriz Barbosa Silva, 2008, p. 107-109)




domingo, 15 de setembro de 2013

A Vida Bandida do maior vigarista do Brasil


Da Psicopatia ao Crime Organizado


A trajetória de Marcelo Nascimento da Rocha, tido como o maior mentiroso, picareta, trapaceiro, vigarista e golpista do Brasil.

Até o momento...



Documentário






quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Psicopatas: O Mal sob aparência humana


O escorpião aproximou-se do sapo que estava à beira do rio. Como não sabia nadar, pediu uma carona para chegar à outra margem.

Desconfiado, o sapo respondeu: “Ora, escorpião, só se eu fosse tolo demais! Você é traiçoeiro, vai me picar, soltar o seu veneno e eu vou morrer.”

Mesmo assim o escorpião insistiu, com o argumento lógico de que se picasse o sapo ambos morreriam. Com promessas de que poderia ficar tranquilo, o sapo cedeu, acomodou o escorpião em suas costas e começou a nadar.

Ao fim da travessia, o escorpião cravou o seu ferrão mortal no sapo e saltou ileso em terra firme.

Atingido pelo veneno e já começando a afundar, o sapo desesperado quis saber o porquê de tamanha crueldade. E o escorpião respondeu friamente:

— Porque essa é a minha natureza!



Demônios, Serviçais do Anticristo, Psicopatas...



Vez por outra, essa fábula surge em minha mente, seja no cotidiano profissional ou através do acompanhamento das notícias diárias, pelos jornais e TV. Trata-se de uma história arquetípica, que ilustra exemplarmente a natureza das pessoas que serão analisadas e descritas, ao longo deste livro [Mentes perigosas - o psicopata mora ao lado].

A ideia de escrever sobre psicopatas surgiu em razão do momento violento, desumano e marcado por escândalos que nos abatem, mas também serve como um alerta aos desprevenidos quanto à ação destruidora desses indivíduos. Devo admitir minha ousadia, mas não pude resistir às inúmeras solicitações dos meus leitores, pacientes, conhecidos e amigos.

Quando pensamos em psicopatia, logo nos vem à mente um sujeito com cara de mau, truculento, de aparência descuidada, pinta de assassino e desvios comportamentais tão óbvios que poderíamos reconhecê-lo sem pestanejar. Isso é um grande equívoco!

Para os desavisados, reconhecê-los não é uma tarefa tão fácil quanto se imagina. Os psicopatas enganam e representam muitíssimo bem! Seus talentos teatrais e seu poder de convencimento são tão impressionantes que chegam a usar as pessoas com a única intenção de atingir seus sórdidos objetivos. Tudo isso sem qualquer aviso prévio, em grande estilo, doa a quem doer.

Mas quem são essas criaturas tão nocivas? São pessoas loucas ou perturbadas? O que fazem, o que sentem? Como e onde vivem? Todos são assassinos?

Este livro discorre sobre pessoas frias, insensíveis, manipuladoras, perversas, transgressoras de regras sociais, impiedosas, imorais, sem consciência e desprovidas de sentimento de compaixão, culpa ou remorso. Esses “predadores sociais” com aparência humana estão por aí, misturados conosco, incógnitos, infiltrados em todos os setores sociais. São homens, mulheres, de qualquer raça, credo ou nível social. Trabalham, estudam, fazem carreiras, se casam, têm filhos, mas definitivamente não são como a maioria das pessoas: aquelas a quem chamaríamos de “pessoas do bem”.

Em casos extremos, os psicopatas matam a sangue-frio, com requintes de crueldade, sem medo e sem arrependimento. Porém, o que a sociedade desconhece é que os psicopatas, em sua grande maioria, não são assassinos e vivem como se fossem pessoas comuns.

Eles podem arruinar empresas e famílias, provocar intrigas, destruir sonhos, mas não matam. E, exatamente por isso, permanecem por muito tempo ou até uma vida inteira sem serem descobertos ou diagnosticados. Por serem charmosos, eloquentes, “inteligentes”, envolventes e sedutores, não costumam levantar a menor suspeita de quem realmente são. Podemos encontrá-los disfarçados de religiosos, bons políticos, bons amantes, bons amigos. Visam apenas o benefício próprio, almejam o poder e o status, engordam ilicitamente suas contas bancárias, são mentirosos contumazes, parasitas, chefes tiranos, pedófilos, líderes natos da maldade.

A realidade é contundente e cruel, entretanto, o mais impactante é que a maioria esmagadora está do lado de fora das grades, convivendo diariamente com todos nós. Transitam tranquilamente pelas ruas, cruzam nossos caminhos, frequentam as mesmas festas, dividem o mesmo teto, dormem na mesma cama...

Apesar de mais de vinte anos de profissão, ainda fico muito surpresa e sensibilizada com a quantidade de pacientes que me procuram com suas vidas arruinadas, totalmente em frangalhos, alvejadas por esses “seres bípedes” que sugam o nosso sangue e vampirizam a nossa alma.

É importante ressaltar que os psicopatas possuem níveis variados de gravidade: leve, moderado e grave. Os primeiros se dedicam a trapacear, aplicar golpes e pequenos roubos, mas provavelmente não “sujarão as mãos de sangue” ou matarão suas vítimas. Já os últimos, botam verdadeiramente a “mão na massa”, com métodos cruéis sofisticados, e sentem um enorme prazer com seus atos brutais. Mas não se iluda! Qualquer que seja o grau de gravidade, todos, invariavelmente, deixam marcas de destruição por onde passam, sem piedade.

Além de psicopatas, eles também recebem as denominações de sociopatas, personalidades antissociais, personalidades psicopáticas, personalidades dissociais, personalidades amorais, entre outras. Embora alguns estudiosos prefiram diferenciá-los, no meu entendimento esses termos se equivalem e descrevem o mesmo perfil. No entanto, por uma questão de foro íntimo e visando facilitar a compreensão, o termo psicopata será o utilizado neste livro.

A parte racional ou cognitiva dos psicopatas é perfeita e íntegra, por isso sabem perfeitamente o que estão fazendo. Quanto aos sentimentos, porém, são absolutamente deficitários, pobres, ausentes de afeto e de profundidade emocional. Assim, concordo plenamente quando alguns autores dizem, de forma metafórica, que os psicopatas entendem a letra de uma canção, mas são incapazes de compreender a melodia.

Com base nessa premissa, optei por não inserir trechos de letras de canções brasileiras na abertura dos capítulos, recurso narrativo que costumo adotar em minhas obras. Música é emoção, sentida com a alma. Entendo que repetir a mesma fórmula ao descrever o comportamento de criaturas desprovidas de afetividade seria, no mínimo, um contrassenso.

Aqui não me proponho, sob qualquer hipótese, a oferecer ajuda terapêutica aos indivíduos com esse perfil. Ao contrário, o meu objetivo é informar o público em geral, para que fique de olhos e ouvidos bem abertos, despertos e prevenidos. Suas vítimas prediletas são as pessoas mais sensíveis, mais puras de alma e de coração...

Também tenho como propósito expor parâmetros para que possamos avaliar, em que escala cada um de nós está contribuindo para promover uma cultura social na qual a psicopatia encontra um terreno fértil para prosperar.

Esta obra contém histórias reais que me foram relatadas por vítimas de psicopatas, direta ou indiretamente, e casos tratados com destaque na imprensa. Não estou afirmando que os exemplos aqui citados representam autênticos psicopatas, e sim que ilustram de forma bastante didática comportamentos que um psicopata típico teria. Além disso, todos os casos apresentados se prestam muito bem à exemplificação dos mais diversos níveis de psicopatia, desde os mais leves até os moderados e severos.

Dessa forma, tentei esquadrinhar e tornar o tema o mais abrangente possível, a fim de responder a uma série de perguntas que, na maioria das vezes, nos deixa absolutamente confusos. Assim espero contribuir para que as pessoas se previnam das ameaças que nos rondam de forma silenciosa. Estou convencida de que falhas em nossas organizações familiares, educacionais e sociais são dados importantes e merecem estudos aprofundados e toda a nossa atenção, mas por si só não são suficientes para explicar o fenômeno da psicopatia.

A natureza dos psicopatas é devastadora, assustadora, e, aos poucos, a ciência começa a se aprofundar e a compreender aquilo que contradiz a própria natureza humana.

O conteúdo aqui exposto é denso e intrigante. As páginas percorrem as mentes sombrias de criaturas cujas vidas parecem não ter se desenvolvido totalmente. Saber identificá-las pode ser um antídoto (talvez o único) contra seu veneno paralisante e mortal. Infelizmente a desinformação nos torna vulneráveis, indefesos como “sapos tolos”, fisgados pelas habilidades camaleônicas dos “escorpiões”.

Prepare-se, porque certamente você conhece, já ouviu falar ou convive com um deles.



Dra. Ana Beatriz Barbosa Silva 

Médica graduada pela UERJ com pós-graduação em psiquiatria pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Professora Honoris Causa pela UniFMU (SP) e Presidente da AEDDA – Associação dos Estudos do Distúrbio do Déficit de Atenção (SP). Diretora da clínica Medicina do Comportamento (RJ), onde faz atendimento aos pacientes e supervisão dos profissionais de sua equipe. Escritora, realiza palestras, conferências, consultorias e entrevistas nos diversos meios de comunicação, sobre variados temas do comportamento humano.

Introdução ao livro "Mentes perigosas - o psicopata mora ao lado".

domingo, 1 de setembro de 2013

Psicopata é problema social


Psicopatas não produzem danos só na vida de suas vítimas. O custo da atuação nociva dos psicopatas pode ser muito alto também para a sociedade.

Falo disso por vivência, experiência. Sou vítima de psicopata e por causa de suas perseguições e falcatruas precisei mobilizar Poder Judiciário, Ministério Público e outras instâncias.

Imaginem vocês o custo de anos e anos mobilizando todo um aparato judiciário para buscar defesa de direitos e reparação pelos danos provocados por um psicopata.

E a questão pode ser ainda mais grave, quando o psicopata corrompe agentes públicos (policiais e outros) e usa o Judiciário como arma para tentar calar denúncias, promover ações contra sua vítima, tentando desgastá-la, inverter a situação e se safar de punições.

Já imaginaram? Todo o aparato do Poder Judiciário (fórum, cartório, escreventes, juízes etc.) acionado por vingança, para despistar, e para intimidar e constranger a vítima...

Psicopata é problema social. E acarreta custos altíssimos à sociedade.

As autoridades públicas precisam acordar para isso.





Você conhece algum psicopata?



Nas telas, eles são sempre assassinos seriais. Mas, na vida real, estima-se que de uma a três em cada 100 pessoas seja psicopata – e os danos que eles causam são bem diferentes

Renata Reif 

Enquanto a cabeça de um bandido comum é quente, o coração do psicopata é frio. Esta é a alusão que os especialistas propõem para diferenciar quem sofre de psicopatia de um criminoso comum. Apesar de não ser uma patologia, a psicopatia não tem cura. Frieza, crueldade e falta de empatia são as principais características constatadas no diagnóstico de um psicopata.

“Eles são indiferentes aos outros, não sentem remorso nem culpa”, define a psiquiatra Hilda Morano, coordenadora do Departamento de Psiquiatria Forense da Associação Brasileira de Psiquiatria. Estima-se que de 1% a 3% da população mundial seja psicopata. “Por menor que seja a prevalência da psicopatia, os psicopatas causam estragos enormes na sociedade”, afirma Antonio de Pádua Serafim, coordenador de psicologia do Núcleo Forense do IPq (Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas).

O alcance dos danos causados pelos psicopatas começa na dificuldade em diagnosticá-los. A ideia popular em torno deles também é distorcida: imagina-se que todos sejam assassinos em série, como se vê nos filmes. Mas não é bem assim.

Há diferentes tipos de psicopata. O corporativo é aquele que não vai sujar a mão de sangue. Ele vira chefe de uma empresa, mas é tão cruel e insensível quanto um assassino em série. A diferença é que atua pela intriga, pela mentira, destruindo a vida das pessoas para alcançar o cargo almejado e mais poder. “O psicopata tem a incapacidade de se colocar no lugar dos outros. Em consequência disso, o remorso e o sentimento de culpa são praticamente inexistentes. Ele só se compromete com o que lhe trará benesses”, explica Roberto Heloani, psicólogo social e professor de gestão da FGV de São Paulo e da Unicamp.

O psicopata organizado, ou o líder, é pouco conhecido, pois tem uma imensa rede de influência que não permite que seja estudado. “É impressionante como eles ficam isolados na cadeia, mas continuam liderando facções”, Hilda explica, citando o traficante Fernandinho Beira-Mar como exemplo.

O psicopata paranoide é um sujeito insensível desde o nascimento, mas com um elemento de ressentimento. Os paranoides alimentam raiva de alguma situação, como o franco atirador da Noruega, que matou 77 pessoas alegando defender a pureza étnica de seu país. “Um dia eles fazem uma chacina”, diz Hilda.

Em geral as cadeias são compostas por 80% de criminosos comuns e 20% de criminosos psicopatas, esses sempre isolados dos demais. Com exceção do Brasil, onde não existe essa segregação, o que prejudica a reabilitação dos criminosos comuns, corrompidos ainda mais pelo medo e pela ameaça. “Vários projetos meus para conseguir a separação foram derrubados em Brasília”, lamenta Hilda.


Outros transtornos x psicopatia

O transtorno de personalidade é um problema diferente da psicopatia e atinge de 7 a 15% da população, com um espectro variado. Oscila do caso mais leve, daquele colega trapaceiro, que adora puxar o tapete no trabalho, até um assaltante. São pessoas que têm fragilidade ética, afrouxamento moral, mas não chegam a ser psicopatas.

“Sou um crítico ferrenho à moda de psicopatia em qualquer lugar. Esse medo do psicopata é exagerado e ruim para a sociedade. Psicopata não é sinônimo de mau caráter, de vilão”, diz Daniel Martins de Barros, psiquiatra coordenador do Núcleo Forense do IPq. “O psicopata simplesmente passa de certo limite ético, ele perturba a ordem social”, Hilda aponta. “São pessoas que causam muito transtorno à sociedade”, completa.

Segundo Hilda, também fundadora do ambulatório de transtorno da personalidade do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo, os pais reconhecem a psicopatia em um filho desde cedo. Eles têm um traço muito claro: são improdutivos, roubam os pais, são mentirosos e manipuladores.

Quando se tornam adultos, continuam a ter as mesmas atitudes no convívio social. O perfil clássico é de um sujeito imprudente, que corre riscos, toma decisões ousadas, é impulsivo e imediatista. “Seu planejamento é de curto e não de longo prazo, que exige esforço e sacrifício”, diz Roberto.

Além disso, têm loquacidade e o chamado charme superficial – por não terem resposta de tensão, além de as respostas de ansiedade serem pouco ativas, psicopatas são muito hábeis para mentir e enganar, sem o receio de serem pegos. “Eles mentem no currículo e conseguem fazer os outros trabalharem por eles. Como são muito sedutores, manipulam os subordinados com facilidade e continuam sendo improdutivos a vida inteira”, descreve Hilda.

Dizer que todo psicopata é brilhante e inteligente é um mito. “Há o psicopata burro também”, diz Daniel. “A diferença é que eles ficam arquitetando todo o tempo alguma coisa contra o outro. Aí as pessoas tendem a pensar que ele teve uma ideia original”, diz Hilda.

Inteligentes ou nem tanto, eles têm um senso de grandiosidade. Na maioria dos casos, a terapia não funciona, pois os psicopatas eliminam qualquer possibilidade de entender que precisam de ajuda. De essência egocêntrica, eles não reconhecem o próprio problema. “Já tive pacientes psicopatas e a sessão toda é um desafio. Ele tenta desarticular você, a ação dele é voltada para desvalorizar o profissional, mostrar que estamos enganados e que ele é melhor”, lembra Antonio.


No trabalho

Psicopatas também são capazes de confundir impressões, pessoas e sempre jogar a seu favor. Têm traços narcísicos e não medem esforços para angariar benefícios para si. “O que importa para eles são o sucesso e o bônus. São habilidosos em usar as pessoas para conseguir seus objetivos”, diz Roberto. “O conselho que dou às organizações é: muito cuidado ao colocar poder nas mãos de pessoas que desconheçam. O poder tem que ser transferido aos poucos”.

Em uma entrevista recente, o especialista em psicologia experimental da Universidade de Oxford Kevin Dutton, autor de “The Wisdom of Psychopats” ("A Sabedoria dos Psicopatas"), afirma que incorporar a insensibilidade típica de um psicopata é positivo no mundo do corporativismo. “Este traço acentuado, no entanto, gera um grande prejuízo no ambiente de trabalho”, diz Roberto.

As organizações que optam por colocar em cargos de alto poder candidatos de perfil agressivo e aparentemente eficiente, sem uma checagem mais profunda, podem ter sérios problemas mais tarde. O psicopata tem dificuldade de se relacionar, é pouquíssimo sincero e muito habilidoso para burlar a própria companhia. “As fraudes internas são um dos grandes problemas das empresas atualmente, por isso se gasta tanto com segurança interna. A empresa pagará muito caro pelo desempenho inicial deste sujeito. Este tipo se faz de vítima, mas ao longo prazo vai armar contra a própria organização”, diz Roberto. Isso porque psicopatas são muito competentes em gerenciar a própria imagem e têm grande capacidade para vender ilusões.