sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Entrevista com Psicopatas




Não, não temos sentimentos éticos e altruístas

Nem sentimentos de culpa e de vergonha

Sim, abusamos de mentiras e insinceridade

Sim, mascaramos atos amorais

Não, jamais admitiremos erros

Sim, ignoramos regras éticas

Sim, fazemos intrigas

Sim, fazemos uso de manipulação e chantagem

Sim, não temos remorsos

Sim, somos promíscuos

Sim, somos irresponsáveis

Não, não nos responsabilizamos por nossas ações

Sim, faremos de tudo para alcançarmos nossos objetivos

Sim, somos racionais articuladores

Sim, estaremos sempre impunes

Sim, queremos destruir vocês

Não, suas emoções não nos incomodam

Não, não temos princípios

Sim, queremos derrubar todos os valores

Sim, somos irreconhecíveis

Sim, somos transgressores

Sim, somos indiferentes aos seus sentimentos

Sim, nossa mente é cruel

Sim, sabemos representar

Sim, somos predadores

Sim, vocês são as presas

Sim, queremos o poder

Sim, somos perversos

Sim, somos superiores

Sim, somos psicopatas

Não, não existe tratamento...

Por Ana Maria C. Bruni


Psicopatasss

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Mandamentos dos Psicopatas

1 - Zelai apenas pelos vossos interesses.

2 - Não honreis a mais ninguém além de vós.

3 - Fazei o mal, mas fingi fazer o bem.

4 - Cobiçai e procurai fazer tudo o que puderdes.

5 - Sede miseráveis.

6 - Sede brutais.

7 - Lograi o próximo toda vez que puderdes.

8 - Matai os vossos inimigos.

9 - Usai a força em vez da bondade ao tratardes com o próximo.

10 - Pensai exclusivamente na guerra.

                                                                                                                  Maquiavel



sexta-feira, 23 de setembro de 2011

O poeta e a sordidez humana



Indignação sem atitude é covardia.


Poesia também é atitude.


A ação destrutiva da psicopata, que põe em risco até a vida da blogueira, sensibiliza o poeta.


Parábola

Destroi sem culpa
Constroi abismo
Com olhar de Esfinge,

Arquiteta imagens aceitáveis 
Rouba inumanamente
Do seu castelo roubado,

Corroi por prazer
Tem em si mil personagens
Todos falsos e sórdidos,

Persuade sem alarme
Ilude existências
Com mente psicopata,

Desfaz raízes
Traz no seio cobiça
No coração, negro amor.


                                                       Walt Marcos



quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Crianças psicopatas: malvadas, macabras, aterrorizantes



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Muitas destas crianças buscarão futuramente quebrar o tédio que sentem em profissões que forneçam o prazer que procuram, como a possibilidade de ludibriar ou torturar pessoas, auferir ganhos sobre perdas do outro ou produzir ferimentos e ver sangue, transformando-se em políticos, grandes investidores, traficantes de drogas, cirurgiões, policiais, cafetões ou líderes religiosos.


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E muitos tornam-se bandidos violentos, começando a fazer as primeiras vítimas em casa. Já nascem más, porém a forma que interagem com a sociedade depende de sua inteligência, formação escolar e outras influências. Os pais são os últimos a perceber a quantidade de maldade que pode existir em uma pessoa de 6 ou 7 anos de idade. Não aceitam e assim só prejudicam seus filhos e a sociedade como um todo. Os primeiros sinais de psicopatia começam geralmente na infância.


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Tivemos a tristeza de acompanhar algumas crianças com transtorno de conduta, um diagnóstico ‘mais light’ antes de se fechar o diagnóstico de sociopatia, ou personalidade psicopata. O que há em comum nestas crianças é uma maldade muito grande associada a uma frieza e capacidade extrema de manipular os pais, além de prazer em ver o sofrimento dos irmãos.
As pessoas com transtorno de conduta não têm empatia, ou seja, não tem a capacidade de sentir o sofrimento do outro e entediam-se com facilidade, precisando de emoções ‘fortes’ para que se sintam vivos. 


imagesCA3LS0I3A primeira criança que atendi já tinha um histórico de contar mentiras, perseguir coleguinhas na escola, destruir patrimônio de vizinhos. A mãe foi avisada várias vezes mas só buscou o CRI (Centro de Reabilitação Infantil) quando o menino violentou a irmã de 5 anos. Duas horas depois de examinar a criança, foi muito duro saber que uma criança pode ser tão perversa. É uma quebra de paradigma muito grande para quem teve formação psicanalítica como eu e não havia visto nada similar durante o estágio profissional. Outros casos foram aparecendo, e apesar de encaminhar algumas crianças ao psiquiatra, não só as mães não foram, como se voltaram contra mim.


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Há os critérios para que os pais desconfiem e procurem ajuda. O depoimento de uma professora mostra o que os profissionais da saúde mental percebem: os pais não aceitam e ainda acusam a pessoa que tenta ajudar, de estar fazendo marcação contra seu filho. O diagnóstico final só pode ser dado pelo especialista.


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Isto ocorre em famílias ricas, 
pobres, em famílias estruturadas emocionalmente ou em lares desestruturados, e no mundo inteiro, mesmo nos países ricos e sem problemas sociais. Uma criança com este tipo de transtorno pode ser aquela líder que persegue e humilha outras crianças, que manipula os coleguinhas e toma seu lanche ou que ameaça os amigos ou os espanca. Há crianças que chegam ao ponto de tentar sufocar os irmãos menores ou perpetram violência sexual e homicídio.


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Ainda que o meio ambiente não seja a causa (porque a criança já nasce assim), um lar mais estruturado pode ser mais capaz de identificar o problema e tentar algum meio de ajuda, ainda que não adiante muito. Não tem tratamento de fato para isto, só vigilância.


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Essas crianças só são freadas quando existe algum risco real contra elas, então descobrir sua maldade cedo é o principal meio de tentar ao menos parcialmente limitá-la. A criança precisa ser ‘desmascarada’ e por meio de tratamento psicológico tentar fazer com que entenda, já que não tem empatia e capacidade de perceber o sofrimento do outro, que estas ações são ilícitas e que o prejuízo pode ser dela.


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O prejuízo do outro não toca a criança com sociopatia, ela precisa entender que pode se dar mal, e por autoproteção desviar sua maldade para algo menos danoso para a sociedade. É preciso descobrir que meio não ilícito e que não leve sofrimento a pessoas inocentes poderá acabar com o tédio que a criança sente para que não busque o sofrimento do outro para se divertir.


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ALGUNS CASOS RECENTES NA MÍDIA


Aos 10 e 11 anos, dois irmãos da Grã-Bretanha torturaram dois garotos por 90 minutos, usando paus, fogo, vidros e pedras. O irmão mais velho justificou o ato alegando que eles estavam entediados e não tinham nada melhor para fazer, e que interromperam a sessão de espancamento porque seus braços doiam. Parte do sadismo foi filmada por um dos meninos, e apresentada durante o julgamento. São meninos que já tinham histórico de comportamento violento e ameaça contra terceiros.


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Em outubro do ano passado um menino matou os pais por não querer arrumar o seu quarto. Depois de matar ambos assistiu alguns filmes, jogou videogame, foi dormir e no dia seguinte, depois da aula, fugiu com a pickup da família. No mesmo mês, dois meninos de 10 anos teriam estuprado uma garotinha de 8 anos de idade na Grã-Bretanha.


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Uma garota liberiana de 8 anos de idade foi atraída para uma cabana por meninos de 9, 10, 13 e 14 anos que lhe prometeram chicletes, a imobilizaram e a violentaram sexualmente até que policiais no local ouviram os gritos e interromperam a sessão. 


(Fonte: http://saladamedica.wordpress.com)






O controle da mente

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

O psicopata na cultura popular

Mais um texto sobre PSICOPATAS divulgado na internet, ao qual faço apenas uma ressalva: psicopatia não é doença ou enfermidade, mas "transtorno": Transtorno de Personalidade Anti-social. Psicopatas não são doentes, mas pessoas de péssimo caráter, do Mal. Que sabem bem o que fazem, por que fazem e com quem fazem.

O psicopata é bem conhecido pela cultura popular, um assíduo frequentador de manchetes de jornais e de programas sensacionalistas. Mas o que o senso comum não sabe é o que se passa em sua alma. De origem grega, psyché, alma; path, sofrimento, a psicopatia indica o doente da alma ou enfermo mental. Alguns acham mais adequado o termo sociopatia, mas muitos deles são conhecidos como ‘serial killers’ – assassinos em série. Além destes, muitos outros criminosos coléricos têm características inerentes a esse distúrbio psíquico. O traço que distingue esse enfermo dos psicóticos é que o psicopata é muito perverso. Ele está sempre atualizado e antenado com a realidade, mas seu superego – aquele sensor que todos temos em nossa mente – está ausente, e isso o priva de qualquer culpa.

A Organização Mundial de Saúde inclui em sua classificação de patologias essa doença, sob a expressão “distúrbio da personalidade dissocial”. Estes pacientes não conseguem se submeter a regras sociais, a convenções e não levam em conta o que sentem os outros. Eles estão sempre centrados em si mesmos, nas suas necessidades, revelam emoções sem nenhuma densidade, carecem de uma autopercepção, controlam muito mal os seus impulsos, não lidam bem com frustrações e partem para a agressão com facilidade, são irresponsáveis, não exprimem remorso nem ansiedade relativamente ao seu comportamento. Manipulam habilmente as outras pessoas e demonstram um cinismo perturbador, revelam-se incapazes de amar. Além disso, os psicopatas mentem, roubam, enganam, fraudam, abandonam suas famílias, põem em risco suas vidas e as dos outros. Quem espera encontrar um psicopata apenas nas expressões ferozes e nos crimes absurdos, pode se surpreender ao observar um outro estilo, o da criatura charmosa e simpática, que parece ser regido pela razão, mas que não hesita em cometer um assassinato quando isso atende às suas conveniências.

Há algumas polêmicas de foro judicial, sobre como tratar criminosos psicopatas. Alguns sustentam que, mesmo doentes, eles estão conscientes do que fazem e poderiam evitá-lo. Geralmente este paciente não tem recuperação e quando dá início a uma série de assassinatos violentos, não cessa mais de cometê-los, portanto só uma prisão perpétua pode contê-lo. Ele não tem condições de conviver socialmente, pois não aprende com seus erros nem com os castigos aplicados. Os psicopatas procuram dissimular seu comportamento quando se dão conta de que a sociedade não o aceita, mas isso não significa que eles se modificaram.

Normalmente eles são muito inteligentes e sabem como esconder os traços de sua personalidade. No cotidiano, estes indivíduos não revelam possuir outros distúrbios psíquicos, e mostram-se até calmos e aparentemente normais no relacionamento social. Falam bem e muitas vezes tornam-se líderes de suas comunidades. Mesmo após um longo convívio, são poucos os que conseguem enxergar seu aspecto sombrio. Assim, eles conseguem eficazmente manter uma vida dupla.

Na verdade, uma boa parte das pessoas com este distúrbio consegue se conter e não se tornar um criminoso – alguns políticos corruptos, líderes inescrupulosos, seres agressivos e que cometem abusos, entre outros. Esta doença pode ser diagnosticada precocemente. Ela tem início na infância ou na adolescência e persiste ao longo da vida – é possível detectar essa enfermidade em torno dos 15 ou 16 anos. É só lembrar dos casos de adolescentes ou até mesmo crianças que promovem massacres nas escolas ou matam a própria família.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Psicopatas: Seres das Sombras

Quando o Mal Triunfa


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Crianças assassinadas, abandonadas, torturadas – as notícias que têm chocado o Brasil lembram que o lado monstruoso do homem pode até ser contido, mas jamais será definitivamente domado.
A morte de uma menina de 5 anos aparentemente jogada da janela do 6º andar já seria por si só brutal – mas o caso é tanto mais chocante porque o pai da garotinha aparece como suspeito do crime.  Os brasileiros que se comoveram com o assassinato de Isabella Oliveira Nardoni acabavam de ser expostos a outra crônica de horrores: a empresária Sílvia Calabresi Lima, de Goiânia, torturava cotidianamente uma menina de 12 anos em sua área de serviço. Ao lado desses casos tenebrosos, outras barbaridades despontam no noticiário: a garota que pulou da janela do 4º andar para fugir do pai agressor, as crianças que ganharam bolo envenenado da vizinha, o bebê jogado no lago. Essa sucessão de fatos macabros traz a incômoda lembrança de uma constante da história humana: a maldade. O mal está presente em toda parte. Na grande arena da política internacional pode-se divisá-lo no genocídio de Darfur, na repressão política em Cuba e no Tibete, no terrorismo da Al Qaeda e das Farc, na leniência do governo americano com práticas de tortura. Esse tipo de mal é mais assimilável, pois se esconde atrás de razões de estado e de pretensas causas nobres.
Mas como metabolizar na alma o mal doméstico, que vem nu, sem disfarces, sem o véu de sofismas que poderiam desculpá-lo e torná-lo suportável pela racionalização de sua origem? Como entender que o sorriso lindo e angelical de Isabella possa ter sido substituído pela máscara da morte no frescor de seus 5 anos de vida? Esse tipo de mal não cabe sequer na aceitação de que coisas ruins podem acontecer a pessoas boas. Esse tipo de mal parece ser uma zona de sombra que aprisiona a alma humana. Esse tipo de mal simplesmente existe. Isso é o que o torna mais assustador.
Desde os primórdios da humanidade essas situações-limite, insuportáveis, lançaram a razão humana em tortuosos exercícios mentais. “É desígnio dos deuses, e a única coisa a fazer é resignar-se” – foi essa desde sempre a saída mais humana para evitar a loucura da dor insuperável provocada pelo mal do mundo. O filósofo grego Xenófanes de Cólofon (560-478 a.C.) foi talvez o primeiro a se insurgir contra os deuses e suas maquinações. Xenófanes concluiu simplesmente que o mal perpassa todo o universo e da sua força nem os deuses escapam. Pelos séculos afora teólogos e filósofos tentaram ajudar a humanidade a conviver com o mal. Mais recentemente as explicações desceram do plano metafísico para se tornar objeto de estudo da sociologia, da psicologia e das ciências biológicas. Nenhuma teoria, porém, é capaz de abarcá-lo, de amainar o choque que ele provoca no corpo e na alma ou a destruição que causa no seio das famílias e no julgamento que fazemos de nós mesmos ao deparar com seres humanos agindo como bestas. Talvez a única certeza sobre o mal seja esta: ele é incontornável.
A palavra “mal” tende a levantar objeções dos céticos. Não será uma superstição religiosa que a modernidade superou? Não, não é. Na semana passada, veio à luz o caso de um menino de 9 anos que, por capricho de dois trabalhadores de uma fazenda em Aurilândia, em Goiás, teve o corpo queimado com um ferro de marcar gado. Não existe qualificação mais precisa para o ato de queimar um garoto por diversão: trata-se de maldade. E o adjetivo “mau” também serve com total propriedade para caracterizar as ações de Sílvia Calabresi Lima, presa em flagrante por tortura, em Goiânia. Sua vítima, L., de 12 anos, apresenta marcas de ferro quente na pele e necrose embaixo das unhas das mãos, entre outros ferimentos.
A hipótese de uma psicopatia é forte no caso de Sílvia. O psicopata entende intelectualmente a diferença entre o bem e o mal, mas é desprovido de piedade, empatia, remorso – emoções que estão na base do senso moral das pessoas. Contrariando as ilusões de certo humanismo que acredita na possibilidade de reeducar qualquer criminoso, indivíduos assim são irrecuperáveis. Com recurso a técnicas recentes como a ressonância magnética funcional, a ciência tem se dedicado a mapear as áreas do cérebro responsáveis pelas decisões morais – áreas que apresentam atividade reduzida nos casos de psicopatia. As causas do distúrbio, porém, ainda não são compreendidas. O problema do mal dificilmente será resolvido nos laboratórios de neurociência. “O mal é um conceito humano, social. A neurociência não pode dizer o que é ou não mau”, diz o neurocientista Jorge Moll Neto, do Instituto de Pesquisa da Rede Labs-D’Or, no Rio de Janeiro.
Seria cômodo imaginar que todo mal vem de uma falha neuroquímica, mas não é assim. A psicopatia, afinal, é um distúrbio raro. Não explica o mal em grande escala – genocídios como os que ocorreram na Bósnia ou em Ruanda nos anos 90, por exemplo. A psicologia social tem iluminado alguns mecanismos que atuam na disposição das massas para colaborar em projetos monstruosos. O que esses estudos revelam não é lisonjeiro para a natureza humana: a tendência das pessoas de se conformar à pressão do grupo social pode levá-las, com relativa facilidade, a atos criminosos. O exemplo clássico desse mecanismo foi exposto no chamado Experimento da Prisão de Stanford, em 1971. Uma falsa prisão foi improvisada em um corredor da Universidade Stanford, nos Estados Unidos, e estudantes que se voluntariaram para a pesquisa foram divididos aleatoriamente em dois grupos, um de guardas, o outro de prisioneiros. Eram todos jovens normais, sem nenhuma tendência notável para a violência. Mas as humilhações a que os prisioneiros foram submetidos – revistas sem roupa, exercícios forçados, cela solitária – tornaram-se tão intensas que o estudo, programado para durar duas semanas, teve de ser interrompido no sexto dia. “Nem todos os guardas agiram mal. Os guardas ‘bonzinhos’, contudo, não fizeram nada para deter os abusos dos violentos”, lembra Philip Zimbardo, psicólogo que conduziu a pesquisa – e que, desde então, vem analisando casos de crueldade praticados ao abrigo de instituições (já esteve até no Brasil, entrevistando policiais que torturaram durante a ditadura militar).
Os guardas, argumenta Zimbardo, sentiam-se autorizados a agir com brutalidade pela cobertura institucional da universidade. A ação em grupo diluía a responsabilidade individual. E os prisioneiros passaram por um processo de desumanização – eram chamados por um número, não pelo nome –, o que tornava mais “aceitáveis” os maus-tratos. Esses três elementos – respaldo de uma organização, ação em grupo e desumanização do outro – estão quase sempre presentes em situações nas quais prisioneiros de guerra são humilhados ou torturados, como no infame caso de tortura em Abu Ghraib, em 2003. Os maiores crimes políticos do século XX foram cometidos por regimes que demonstraram pleno entendimento desses mecanismos da psicologia de grupo – e que os levaram a extremos. A lógica de rebanho que às vezes rege a psicologia das massas, porém, não exime os que participam de genocídios e massacres. A responsabilidade individual é inescapável. O Tribunal de Nuremberg, que julgou líderes nazistas, não aceitava a obediência a “ordens superiores” como justificativa para crimes de guerra.
A perspectiva religiosa sobre o mal tende a enfatizar as escolhas individuais. O cristianismo vê o mal como fruto do orgulho humano (ou angélico, se pensarmos em Lúcifer, o anjo que cai da graça divina por sua soberba). É por imaginar a si mesmo como auto-suficiente, como uma espécie de divindade, que o homem se sente no direito de humilhar, ferir, matar o próximo. Mas a natureza cega do mal – especialmente do mal da natureza, os terremotos, enchentes, incêndios e outras catástrofes – coloca um problema para os religiosos: se Deus é bom, por que coisas más acontecem até mesmo aos justos? Que sentido pode ter, por exemplo, o drama de Madeleine McCann, a menina inglesa que sumiu de seu quarto de hotel em Portugal, em maio de 2007, e nunca foi reencontrada? Os grandes pensadores do cristianismo tentaram resolver esses dilemas. Santo Agostinho, por exemplo, dizia que, se bons e maus sofrem igualmente, é para que os primeiros possam provar sua virtude. Assim como o fogo “transforma a palha em cinza e faz brilhar o ouro”, o infortúnio purifica os virtuosos e destrói os perversos, diz Agostinho em A Cidade de Deus.
Na história do pensamento ocidental, foi o cristianismo que aprofundou a noção de mal. Os filósofos gregos não se dedicaram tanto ao tema. O estoicismo, escola de pensamento grega e latina que pregava a aceitação serena do mundo, praticamente recusava a noção. “A natureza do mal não existe no mundo, pois não se concebe um fim destinado a não se realizar”, dizia Epicteto, um dos mestres estóicos (talvez não seja por acaso que o imperador romano Marco Aurélio, outro clássico do estoicismo, mandava crucificar cristãos). A filosofia por muito tempo desconfiou da concepção de mal – seria um problema do domínio da teologia. Mas pensadores como Kant se esforçaram para dar uma dimensão laica ao mal. O mal é um conceito difícil, sem dúvida, mas hoje está bem estabelecido que se pode defini-lo sem recurso à fé. “O mal é toda ação voltada para eliminar as condições de uma existência racional”, diz o filósofo Denis Lerrer Rosenfield, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, autor de Retratos do Mal. Nesse conceito cabem, por exemplo, da violência contra uma criança ao atentado de 11 de setembro – todas ações que atentam contra a racionalidade.
O mal também é um grande tema da arte e da literatura, que testa os limites da racionalidade social por meio da ficção. Basta pensar na galeria de vilões de Shakespeare e em particular no insidioso Iago, de Otelo, que parece exercer sua ruindade apenas pelo prazer de ser ruim. Já se notou que o inferno de Dante é mais interessante do que seu paraíso, e que o grande personagem de Paraíso Perdido, de Milton, é satanás, e não Deus. Thomas De Quincey, escritor inglês da virada do século XVIII para o XIX, observou que a experiência estética coloca nossa moral em suspensão. Ele lembra o momento de Macbeth, de Shakespeare, em que o personagem-título acaba de matar o rei Duncan – e então alguém bate nos portões do castelo. Por um momento, o espectador se angustia com a possibilidade de Macbeth ser flagrado em seu crime. Shakespeare nos faz torcer pelo monstro e, com a maestria do gênio, revela o monstro que habita em cada um de nós e que precisa ser sempre vigiado.
As pessoas não torcem pelo monstro quando ele aparece no noticiário batendo em crianças com um martelo. Mas o fato de essas notícias produzirem tanto interesse atesta o fascínio do mal. Esses casos tenebrosos lembram que ele segue presente. A história ocidental conheceu progressos. Práticas bárbaras que já foram tomadas como normais por sociedades antigas – o sacrifício humano, o canibalismo, o assassinato de bebês com defeitos físicos – hoje são inaceitáveis. Mas será ingênuo pensar que esse progresso possa domar a besta humana. “A razão não explica tudo. Há uma dimensão monstruosa no ser humano que parece não fazer sentido. E é preciso respeitá-la”, diz o filósofo e teólogo Luiz Felipe Pondé. Respeito, nesse caso, não se confunde com amor: é a distância que se guarda em relação àquilo que pode nos aniquilar.
O mal na religião
• Todas as grandes religiões compreendem alguma força de desordem ou destruição – o Mal. A dualidade entre bem e mal foi provavelmente estabelecida pelo zoroastrismo, religião da antiga Pérsia que pode ter influído sobre o judaísmo e o cristianismo
• A primeira figura do mal na Bíblia é a serpente do Éden, que ocasiona a queda do homem. O Satã do Antigo Testamento ainda não é exatamente um opositor malévolo de Deus. No Livro de Jó, por exemplo, ele atua como uma espécie de promotor dos tribunais divinos. Jó é um homem bom e temente a Deus, que é atingido por uma série de catástrofes. Seu problema fundamental continuaria intrigando filósofos e teólogos por séculos: por que coisas más acontecem a pessoas boas?
• Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino, os grandes filósofos do cristianismo, vêem a soberba humana como a raiz do mal e a graça divina como a fonte do bem. Agostinho admite que coisas ruins acontecem igualmente a pessoas boas e más, mas diz que é a atitude piedosa diante do infortúnio que faz a diferença
O mal da natureza
• Desastres naturais como o terremoto de Lisboa, em 1755, provocaram os filósofos a pensar sobre a possibilidade de o universo – ou Deus, seu criador – ser mau. O terremoto pôs em dúvida as idéias de filósofos como Gottfried Wilheim Leibniz, que havia postulado um universo organizado em torno do bem. Essa perspectiva otimista foi ironizada por Voltaire em seu livro Cândido
• O naturalista inglês Charles Darwin, pai da teoria da evolução, pôs em xeque a idéia de uma natureza projetada por um Deus bondoso. Ele lembrava o exemplo de uma vespa que paralisa outros insetos para que sejam comidos vivos por suas larvas. E conclui que um “Deus onipotente e benéfico” não teria criado um ser assim
O mal do homem
• Aristóteles dedica sua Ética a Nicômaco à perseguição da virtude, e estóicos como Epicteto pregavam a boa vida, reconciliada com o mundo tal como ele é. O mal, porém, não chegava a constituir um problema para a filosofia grega
• O pensador renascentista italiano Nicolau Maquiavel inaugura, em seu clássico O Príncipe, uma perspectiva pragmática do bem e do mal: o governante deve, em certas ocasiões, ignorar os preceitos morais e até praticar o mal para se manter no poder
• Em uma de suas últimas obras, A Religião nos Limites da Simples Razão, o filósofo alemão Immanuel Kant examinou a vontade maligna do ser humano, que ele chamou de “mal radical”
• No século XIX, o filósofo alemão Friedrich Nietzsche tentou transcender o bem e o mal em sua filosofia, idealizando um “super-homem” que estaria além de qualquer moral. A obra de Nietzsche não pode ser confundida com uma defesa do mal – mas ele era um crítico feroz dos valores cristãos
• Depois da II Guerra Mundial, o trauma político do holocausto nazista trouxe uma nova imagem do mal. Influenciada pela idéia de “maldade radical” de Kant, a filósofa Hannah Arendt diagnosticou a “banalidade do mal” do totalitarismo, cujas políticas perversas são decididas com frieza burocrática
• Na segunda metade do século XX, a psicologia social tem estudado como certas organizações coletivas – um partido político, um grupo armado – podem induzir pessoas comuns a cometer atos monstruosos. Na última década, a neurociência vem obtendo avanços no mapeamento cerebral dos psicopatas, indivíduos que não têm decisões morais
FONTE: Revista Veja

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Psicopatia em mulheres


Em geral, a psicopatia caracteriza-se por insensibilidade absoluta, crueldade, impulsividade, emoções superficiais e ausência de remorso para os atos cruéis. Falta ao psicopata empatia para com as pessoas à sua volta. Os psicopatas são manipuladores e em geral, por causa da impulsividade, tendem a envolver-se em atividades criminosas. A impulsividade é um traço preponderante e até mesmo definidor da psicopatia.


Psicopatas não aprendem com as punições e nem com a experiência e, por essa razão, são encontrados mais facilmente entre os marginais aprisionados.


Eles acreditam ter uma certa imunidade natural para os limites da vida. Mas a grande maioria dos psicopatas não está atrás das grades e, sim, vivendo de forma comum, sem nunca terem passado por uma delegacia.


Eles casam-se e têm filhos que serão pessoas problemáticas, porque nós sabemos hoje que o ambiente tem um poder enorme sobre o desenvolvimento e rumos do psiquismo.

A psicopatia é uma doença mental que tem vários graus de severidade. Quando inteligentes, os psicopatas geralmente são persuasivos, carismáticos e podem induzir as pessoas à sua volta a fazer coisas que eles não querem ou não se sentem capazes de fazer. São indivíduos extremamente manipuladores. Psicopatas em geral são mentirosos, mas não aceitam quando a mentira é aplicada a eles, e por isso exigem fidelidade e verdade daqueles com quem se relacionam.

São muito preocupados consigo próprios. Outra característica dos psicopatas é que não fazem planos a longo prazo e também não assumem a responsabilidade por suas ações. Mas essa descrição é estabelecida para psicopatas do sexo masculino.

''Será que há uma correspondência de comportamentos para as mulheres?''

Vários grupos de pesquisa compostos por psicólogos e psiquiatras americanos têm se dedicado a estudar a psicopatia no sexo feminino. Em geral os estudos estão sendo feitos em prisões femininas com mulheres que matam e agridem frequentemente.

As conclusões atuais mostram que a psicopatia severa entre mulheres é muito rara. O número de mulheres psicopatas pode ser previsto como sendo um terço daqueles números prevalentes entre homens e que, por sua vez, correspondem a 2 ou 3% da população geral.

Os profissionais chegaram às seguintes conclusões provisórias com relação à psicopatia feminina:

1. Os sintomas iniciais, em geral, surgem já no início da vida.

2. Em alguns casos parecem existir evidências de que, quando crianças, essas mulheres sofreram abusos sexuais (não é uma condição necessariamente obrigatória).

3. Tanto os homens como as mulheres partilham de um processo comum na infância: negligência e abusos na relação com os pais.

4. Na melhor das hipóteses, as mulheres psicopatas foram criadas em famílias onde eram introvertidas e tinham um profundo sentimento de isolamento.

5. Na adolescência elas tornam-se adictas de várias substâncias como álcool e drogas.

6. Podem apresentar comportamentos sexuais perversos.

7. Essas mulheres têm um contato instável com a realidade. Esses contatos tendem a ficar mais precários em situações emocionais intensas.

8. As mulheres psicopatas não apresentam problema com a impulsividade, que é um traço considerado central na psicopatia masculina. Alguns estudiosos consideram que as mulheres psicopatas tendem a ser mais paranóicas e histéricas.

9. Assim como os homens, as mulheres psicopatas têm grande necessidade de controle e de poder. São persuasivas, sedutoras e carismáticas, mas obtém seu intento de forma diferente.

10. As mulheres psicopatas não gostam de serem contrariadas.

11. Há muitos traços nas psicopatas femininas que coincidem com os traços encontrados nos homens, como insensibilidade, violência e agressão sem que isso implique em culpa. Suas emoções são superficiais, achatadas.

12. As mulheres psicopatas em geral estão entre aquelas que assumem papeis preponderantes nos cuidados com os demais, como por exemplo enfermeiras e parteiras. Gostam de cuidar das pessoas à sua volta. Aliás, foram nessas profissões que surgiram as grandes psicopatas femininas e que tornaram-se serial killers.

Como foi observado pelos pesquisadores, as mulheres portadoras de psicopatia severa, na verdade, são casos muito raros. Mas existem. Segundo Hare, um pesquisador há muito envolvido com a pesquisa da psicopatia e seu tratamento, desconfia que existem algumas alterações cerebrais envolvidas na psicopatia.

Se você se interessa pelo assunto, veja o artigo "Psicopatia", já publicado por Psipoint.

Uma questão que sempre chama a atenção é que as pessoas, ainda nos dias de hoje, tendem a ver tais atos como fruto de um comportamento maldoso e não como fruto de uma doença muito séria.

Creio que essa postura acaba trazendo alguns lucros que podem, num outro momento, revelarem-se perversos. A doença, principalmente os transtornos de personalidade, são condições que podem passar despercebidas por muitos anos, até que um dia se manifestam de maneira violenta, e então nos confrontam com o que há de pior na vida: a morte e a violência. Essa manifestação pode ser desastrosa e sempre vai depender do stress a que o indivíduo é submetido.

Grandes Assassinas

Elizabeth Bathory - Hungria

Matou de 40 a 600 pessoas entre 1600 e 1611. Ninguém sabe ao certo o número de vítimas. Interessada em magia negra, ela acreditava que ficaria jovem para sempre se tomasse banho em sangue humano. Então, matava e usava o sangue das vítimas. Nunca foi condenada.

Mary Ann Cotton – Inglaterra

Matou de 15 a 21 pessoas, entre 1852 e 1872. Envenenava suas vítimas com arsênico. Matou todos os maridos e boa parte dos filhos. O objetivo era ficar com o seguro deixado pelos maridos, eliminando possíveis herdeiros rivais. Foi enforcada em 24 de março de 1873.

Marybeth Tinning – EUA

Matou nove ou mais pessoas, entre 1972 e 1985. Matou todos seus nove filhos, mas confessou ter sufocado apenas três. Condenada em 1987, cumprindo pena até hoje.

Martha Beck -EUA

Formou com o amante uma das mais famosas duplas de serial killers no final dos anos 40.


Conhecidos como Lonely Hearts, por escolherem suas vítimas, entre viúvas de veteranos de guerra, através de correios sentimentais em jornais. Martha manipulava o parceiro, era fria e calculista, apresentava-se como irmã mais nova e juntos praticavam os crimes.


Finalmente teve seu fim na cadeira elétrica. Graças aos empenho de dois detetives, inconformados com a audácia e crueldade das mortes, lutaram até o fim para capturar a dupla.


Sua historia foi filmada com o nome de Lonely Hearts ou Os Fugitivos, o papel de Martha coube a grande atriz Salma Hayek.


Marie Noe – EUA

Matou oito de seus dez filhos, entre 1940 e 1968. Teve dez filhos que morreram um depois do outro. Confessou ter asfixiado quatro deles, mas as provas indicavam que era culpada pelo assassinato de pelo menos oito.

Belle Gunnes – EUA

Matou mais de 40 pessoas, entre 1900 e 1908. Seus dois maridos morreram subitamente, além de uma sogra, dois filhos e diversos amantes. Envenenou boa parte das vítimas. Em 1908, desapareceu e não foi encontrada.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Seu "amigo" PSICOPATA



Parasitas, predadores, farsantes, manipuladores... Assim são os psicopatas, que sem dó nem piedade destroem as vidas de suas vítimas, de forma leve e inconsequente ou até com requintes de crueldade.


Seu amigo psicopata

Cinco milhões de brasileiros são incapazes de sentir emoções. Eles podem até matar sem culpa e estão incógnitos ao seu lado. Agora, a ciência começa a desvendá-los

Leandro Narloch


Tinha alguma coisa errada com o Guilherme. Desde quando era pequeno, 4 anos de idade, a mãe, Norma*, achava que ele não era uma criança normal. O guri não tinha apego a nada, era frio, não obedecia a ninguém. O problema ficou claro aos 9 anos. Guilherme, nome fictício de um rapaz do Guarujá, litoral de São Paulo, que hoje tem 28 anos, roubava os colegas da escola, os vizinhos e dinheiro em casa. Também passou a expressar uma enorme capacidade de fazer os outros acreditar no que inventava. Aos 18, o garoto conseguiu enganar uma construtora e comprar um apartamento fiado. 


"Quando um primo da mesma idade morreu de repente, ele só disse ‘que pena’ e continuou o que estava fazendo", conta a mãe. Tinha alguma coisa errada com o Guilherme.


Em busca de uma solução, Norma passou 15 anos rodando com o filho entre psicólogos, psiquiatras, pediatras e até benzedeiros. Para todos, ele não passava de um garoto normal, com vontades e birras comuns. "Diziam que era mimo demais, que não soubemos impor limites." Uma pista para o problema do filho só apareceu em 2004. A mãe leu uma entrevista sobre psicopatia e resolveu procurar psiquiatras especializados no assunto. Então descobriu que o filho sofre da mesma doença de alguns assassinos em série e também de certos políticos, líderes religiosos e executivos. "Apenas confirmei o que já sabia sobre ele", diz Norma. "Dói saber que meu filho é um psicopata, mas pelo menos agora eu entendo que problema ele tem."


Guilherme não é um assassino como o Maníaco do Parque ou o Chico Picadinho. Mas todos eles sofrem do mesmo problema: uma total ausência de compaixão, nenhuma culpa pelo que fazem ou medo de serem pegos, além de inteligência acima da média e habilidade para manipular quem está em volta. A gente costuma chamar pessoas assim de monstros, gênios malignos ou coisa que o valha. Mas para a Organização Mundial da Saúde (OMS), eles têm uma doença, ou melhor, deficiência. O nome mais conhecido é psicopatia, mas também se usam os termos sociopatia e transtorno de personalidade anti-social.


Com um nome ou outro, não se trata de raridade. Entre os psiquiatras, há consenso quanto a estimativas surpreendentes sobre a psicopatia. "De 1% a 3% da população tem esse transtorno. Entre os presos, esse índice chega a 20%", afirma a psiquiatra forense Hilda Morana, do Instituto de Medicina Social e de Criminologia do Estado de São Paulo (Imesc). Isso significa que uma pessoa em cada 30 poderia ser diagnosticada como psicopata. E que haveria até 5 milhões de pessoas assim só no Brasil. Dessas, poucas seriam violentas. A maioria não comete crimes, mas deixa as pessoas com quem convive desapontadas. "Eles andam pela sociedade como predadores sociais, rachando famílias, se aproveitando de pessoas vulneráveis e deixando carteiras vazias por onde passam", disse à SUPER o psicólogo canadense Robert Hare, professor da Universidade da Colúmbia Britânica e um dos maiores especialistas no assunto.


Os psicopatas que não são assassinos estão em escritórios por aí, muitas vezes ganhando uma promoção atrás da outra enquanto puxam o tapete de colegas. Também dá para encontrá-los de baciada entre políticos que desviam dinheiro de merenda para suas contas bancárias, entre médicos que deixam pacientes morrer por descaso, entre "amigos" que pegam dinheiro emprestado e nunca devolvem... Lendo esta reportagem, não se surpreenda se você achar que conhece algum. Certamente você já conheceu.


Amigo da onça


O psicólogo Robert Hare tinha acabado de sair da faculdade, na década de 1960, quando arranjou um emprego no presídio de Vancouver. Função: atender os presos com problemas e montar diagnósticos de sanidade para pedidos de condicional. Lá conheceu o simpático Ray, um dos presos. Era um sujeito legal, contava histórias envolventes e tinha um sorriso que deixava qualquer um confortável. Como o sujeito parecia aplicado e dedicado a ter uma vida correta depois da prisão, o doutor resolveu ajudá-lo em pedidos de transferência para trabalhos melhores na cadeia, tipo a cozinha e a oficina mecânica. Os dois ficaram amigos. Mas Ray não era o que parecia. Hare descobriu que o homem usava a cozinha para produzir álcool e vender aos colegas. Os funcionários do presídio também alertaram o psicólogo dizendo que ele não tinha sido o primeiro a ser ludibriado pelo "gente boa" Ray. E que a falta de escrúpulos do preso não tinha limites. Pouco depois, Hare sentiu isso na pele: teve os freios de seu carro sabotados pelo "amigo" presidiário.


Ray não era único ali. Boa parte de seus colegas no presídio de Vancouver era formada por sujeitos alegres, comunicativos e cheios de amigos que também eram egocêntricos, sem remorso e não mudavam de atitude nem depois de semanas na solitária. Nas prateleiras sobre doenças mentais, havia várias descrições parecidas. O francês Philip Pinel, um dos pais da psiquiatria, escreveu no século 18 sobre pessoas que sofriam uma "loucura sem delírio". Mas o primeiro estudo para valer sobre psicopatia só viria em 1941, com o livro The Mask of Sanity ("A Máscara da Sanidade", sem tradução para o português), do psiquiatra americano Hervey Cleckley. Ele dedica a obra a um problema "conhecido, mas ignorado" e cita casos de pacientes com charme acima da média, capacidade de convencer qualquer um e ausência de remorso. Com base nesses estudos, Robert Hare passou 30 anos reunindo características comuns de pessoas assim, até montar sua escala Hare, o método para reconhecer psicopatas mais usado hoje.


Trata-se de um questionário com perguntas sobre a vida do sujeito, feito para investigar se ele tem traços de psicopatia. Seja como for, não é fácil identificar um. Psicopatas não têm crises como doentes mentais: o transtorno é constante ao longo da vida. Outras funções cerebrais, como a capacidade de raciocínio, não são afetadas. Algumas características, no entanto, são evidentes.


Segredos e mentiras


Atributo número 1: mentir. Todo mundo mente, mas psicopatas fazem isso o tempo todo, com todo mundo. Inclusive com eles mesmos. São capazes de dizer "Já saltei de pára-quedas" e, logo depois, "Nunca andei de avião", sem achar que existe uma grande contradição aí. Espertos, não se contentam só em dizer que são neurocirurgiões, por exemplo, sem nunca ter completado o colegial: usam e abusam de termos técnicos das profissões que fingem ter. Se o sujeito finge ser advogado, manda ver nos "data venias" da vida. Se diz que estudou filosofia, vai encher o vocabulário de expressões tipo "dialética kantiana" sem fazer idéia do que isso significa. Sim, eles são profissionais da lorota.


"Depois que descobri as mentiras que ele me contou, passei um tempo me perguntando como tinha sido tão burra para acreditar naquilo", diz a professora carioca Ana*. Há 9 anos, ela conheceu um cara incrível. Ele dizia que, com apenas 27 anos, era diretor de uma grande companhia e que, por causa disso, viajava sempre para os EUA e para a Europa. Atencioso e encantador, Cláudio era o genro que toda sogra queria ter. "Em 5 meses, a gente estava quase casando. Então a mãe dele revelou que era tudo mentira, que o filho era doente, enganava as pessoas desde criança e passava por um tratamento psiquiátrico."


Ana largou Cláudio e foi tocar a vida. Mas nem sempre quem passa pelas mãos de um psicopata "pacífico" tem tempo para reorganizar as coisas. Que o digam as pessoas que cruzaram o caminho de Alessandro Marques Gonçalves. Formado em direito, ele resolveu fingir que era médico. E levou esse delírio às últimas consequências: forjou documentos e conseguiu trabalho em 3 grandes hospitais paulistas. Enganou pacientes, chefes e até a mulher, que espera um filho dele e não fazia idéia da fraude. Desmascarado em fevereiro de 2006, Alessandro aleijou pelo menos 23 pessoas e é suspeito da morte de 3.


"Ele usa termos técnicos e fala com toda a naturalidade. Realmente parece um médico", diz o delegado André Ricardo Hauy, de Lins, que o interrogou. "Também acha que não está fazendo nada de errado e diz, friamente, que queria fazer o bem aos pacientes." Quando foi preso, Alessandro não escondeu a cabeça como os presos geralmente fazem: deixou-se filmar à vontade.


"O diagnóstico de transtorno anti-social depende de um exame detalhado, mas dá para perceber características de um psicopata nesse falso médico. É que, além de mentir, ele mostra ausência de culpa", afirma o psiquiatra Antônio de Pádua Serafim, do Hospital das Clínicas de São Paulo.


E esse é um atributo-chave da mente de um psicopata: cabeça fresca. Nada deixa esses indivíduos com peso na consciência. Fazer coisas erradas, todo mundo faz. Mas o que diferencia o psicopata do "todo mundo" é que um erro não vai fazer com que ele sofra. Sempre vai ter uma desculpa: "Um cara que matou 41 garotos no Maranhão, Francisco das Chagas, disse que as vítimas queriam morrer", conta Antônio Serafim.


Justamente por achar que não fazem nada de errado, eles repetem seus erros. "Psicopatas reincidem 3 vezes mais que criminosos comuns", afirma Hilda Morana, que traduziu e adaptou a escala Hare para o Brasil. "Tem mais: eles acham que são imunes a punições." E isso vale em qualquer situação. Até na hora de jogar baralho.


Foi o que mostrou o psicólogo americano Joe Newman num experimento em 1987. No laboratório, havia 4 montes de cartas. Sem que os jogadores soubessem, um deles estava cheio de cartas premiadas. Ou seja: quem escolhesse aquele monte ganhava mais dinheiro e continuava no jogo. Aos poucos, porém, a quantidade de cartas boas rareava, até que, em vez de dar vantagem, escolher aquele monte passava a dar prejuízo. Pessoas comuns que participaram da pesquisa logo perceberam a mudança e deixaram de apostar nele. Psicopatas, porém, seguiram tentando obter a recompensa anterior. 


"Pessoas comuns mudam de estratégia quando não obtêm recompensa", afirma o neurocientista James Blair, autor do livro The Psychopath – Emotion and the Brain ("O Psicopata – Emoção e o Cérebro", sem edição brasileira). "Mas crianças e adultos com tendências psicopáticas continuam a ação mesmo sendo repetidamente punidos com a perda de pontos."


Psicopatas não aprendem com punições. Não adianta dar palmadas neles.
Além disso, psicopata que se preze se orgulha de suas mancadas. Esse sujeito pode ser o marido que trai a mulher e se gaba para os amigos. Ou coisa pior. Veja o caso do promotor de eventos Michael Alig. Querido por todos, ele difundiu a cultura clubber em Nova York, organizando festas itinerantes. E em 1996 ele matou um amigo em casa. Quando o corpo começou a feder, retalhou-o e jogou os pedaços no rio Hudson. Dias depois, em um programa de TV, Alig simplesmente descreveu o assassinato, todo pimpão. Os jornalistas acharam que era só uma brincadeira besta, claro. Dias depois, a polícia achou o corpo do amigo de Alig no rio. Ele foi condenado a 20 anos de prisão – sem perder a pose.


Isso é lugar-comum entre os psicopatas. O próprio psiquiatra Antônio Serafim está acostumado com relatos grandiosos de carnificinas: "Quando você pergunta sobre a destreza com que cometeram os crimes, eles contam detalhes dos assassinatos, cheios de orgulho."


Zumbis


Se você estivesse indo comprar cerveja perto de casa e se desse conta que esqueceu a carteira, o que faria? Em vez de voltar para buscar dinheiro, um psicopata da Califórnia preferiu catar um pedaço de pau, bater num homem e levar o dinheiro dele. Também tem o caso de uma mulher que deixou a filha de 5 anos ser estuprada pelo namorado. Perguntada por que deixou aquilo acontecer, ela disse: "Eu não queria mais transar, então deixei que ele fosse com a minha filha."


Eis mais um traço psicopático. "Eles tratam as pessoas como coisas", afirma o psiquiatra Sérgio Paulo Rigonatti, do Instituto de Psiquiatria do HC. Isso acontece porque eles simplesmente não assimilam emoções. Para entender isso melhor, vamos dar um passeio pelo inferno.


Corpos decapitados, crianças esquálidas com moscas nos olhos, torturas com eletrochoque, gemidos desesperados. Só de imaginar cenas assim, a reação de pessoas comuns é ter alterações fisiológicas como acelerar as batidas do coração, intensificar a atividade cerebral e enrijecer os músculos. Em 2001, o psiquiatra Antônio Serafim colocou presos de São Paulo para assistir a cenas assim. Cada um ouvia, por um fone, sons desagradáveis, como gritos de desespero. "Os criminosos comuns tiveram reações físicas de medo", diz ele. "Já os identificados como psicopatas não apresentaram sequer variação de batimento cardíaco."


Mais: uma série de estudos do Instituto de Neurociência Cognitiva, nos EUA, mostrou que psicopatas têm dificuldade em nomear expressões de tristeza, medo e reprovação em imagens de rostos humanos. "Outros 3 estudos ligaram psicopatia com a falta de nojo e problemas em reconhecer qualquer tipo de emoção na voz das pessoas", afirma Blair.


É simples: assim como daltônicos não conseguem ver cores, psicopatas são incapazes de enxergar emoções. Não as enxergam nem as sentem, pelo menos não do mesmo jeito que os outros fazem. Em vez disso, eles só teriam o que os psiquiatras chamam de proto-emoções – sensações de prazer, euforia e dor menos intensas que o normal. "Isso impede os psicopatas de se colocar no lugar dos outros", diz Hilda Morana.


Um dos pacientes entrevistados por Hare confirma: "Quando assaltei um banco, notei que uma caixa começou a tremer e a outra vomitou em cima do dinheiro, mas não consigo entender por quê", disse. "Na verdade, não entendo o que as pessoas querem dizer com a palavra ‘medo’ ".


No livro No Ventre da Besta – Cartas da Prisão, o escritor americano Jack Abbott descreve com honestidade o que acontece na sua cabeça de psicopata: "Existem emoções que eu só conheço de nome. Posso imaginar que as tenho, mas na verdade nunca as senti".


É como se eles entendessem a letra de uma canção, mas não a música. Esse jeito asséptico de ver o mundo faz com que um psicopata consiga mentir sem ficar nervoso, sacanear os outros sem sentir culpa e, em casos extremos, retalhar um corpo com o mesmo sangue-frio de quem separa as asinhas do peito de um frango assado.


Cérebros em curto


Ok, o problema central dos psicopatas é que eles não conseguem sentir emoções. Mas por que isso acontece? "A crença de que tudo é causado por famílias instáveis ou condições sociais pobres nos faz fingir que o problema não existe", afirma Hare.


Para a neurologia, a coisa é mais objetiva: os "circuitos" do cérebro de um psicopata são fisicamente diferentes dos de uma pessoa normal. Uma descoberta importante foi feita pelo neuropsiquiatra Ricardo de Oliveira-Souza e pelo neurologista Jorge Moll Neto, pesquisador do Instituto Nacional de Distúrbios Neurológicos dos EUA. Em 2000, os dois identificaram, com imagens de ressonância magnética, as partes do cérebro ativadas quando as pessoas fazem julgamentos morais. Os participantes da pesquisa tiveram o cérebro mapeado enquanto decidiam se eram certas ou erradas frases como "podemos ignorar a lei quando necessário" ou "todos têm o direito de viver", além de outras sem julgamento moral, como "pedras são feitas de água". A maioria dos voluntários ativou uma área bem na testa, chamada Brodmann 10, ao responder às perguntas.


E aí vem o pulo-do-gato: a dupla repetiu o estudo em 2005 com pessoas identificadas como psicopatas, e descobriu que elas ativam menos essa parte do cérebro. Daí a incompetência que os sujeitos com transtorno anti-social têm para sentir o que é certo e o que é errado. Agora, resta saber se essas deficiências vêm escritas no DNA ou se surgem depois do nascimento.


Hoje, se sabe que boa parte da estrutura cerebral se forma durante a vida, sobretudo na infância. Mas cientistas buscam uma causa genética porque a psicopatia parece surgir independentemente do contexto ou da educação. "Nascem tantos psicopatas na Suécia ou na Finlândia quanto no Brasil", afirma Hilda Morana. "Os pais costumam se perguntar onde foi que erraram." A impressão é que psicopatas nasceram com o problema. "Eles também surgem em famílias equilibradas, são irmãos de pessoas normais e deixam seus pais perplexos", afirma Oliveira-Souza.


James Blair vai pela mesma linha: "Estudos com pessoas da mesma família, gêmeos e filhos adotados indicam que o comportamento dos psicopatas e as disfunções emocionais são coisas hereditárias", afirma.


Cobras de terno


Mesmo quem defende uma origem 100% genética para a psicopatia não descarta a importância do ambiente. A criação, nessa história, seria fundamental para determinar que tipo de psicopata um camarada com tendência vai ser.


"Fatores sociais e práticas familiares influenciam no modo como o problema será expresso no comportamento", afirma Rigonatti. Por exemplo: psicopatas que cresceram sofrendo ou presenciando agressões teriam uma chance bem maior de usar sua "habilidade" psicopática para matar pessoas.


Um bom exemplo desse tipo é o americano Charles Manson. Filho de uma prostituta alcoólatra e dono de uma mente pra lá de sociopata, transformou um punhado de hippies da Califórnia em um grupo paramilitar fanático nos anos 70. Manson foi responsável pela carnificina na casa do cineasta Roman Polanski. Entre os 5 mortos, estava a atriz Sharon Tate, mulher do diretor e grávida de 8 meses. Detalhe: ele nem sequer participou da ação. Só usou sua capacidade de liderança para convencer um punhado de seguidores a realizar o massacre.


Já os que vêm de famílias equilibradas e viveram uma infância sem grandes dramas teriam uma probabilidade maior de se transformar naqueles que mentem, trapaceiam, roubam, mas não matam. Mais de 70% dos psicopatas diagnosticados são desse grupo, mas não há motivo para alívio. Psicopatas infiltrados na política, em igrejas ou em grandes empresas podem fazer estragos ainda piores.


Exemplos não faltam. O político absurdamente corrupto que é adorado por eleitores, cativa jornalistas durante entrevistas, não entra em contradição nem parece sentir culpa por ter recheado suas contas bancárias com dinheiro público é um. O líder religioso que enriquece à custa de doações dos fiéis é outro. E por aí vai.


"Eles costumam se dar bem em ambientes pouco estruturados e com pessoas vulneráveis. Agem como cartomantes, pais de santo, líderes messiânicos", afirma Oliveira-Souza. Psicopatas não tão fanáticos, mas com a mesma falta de escrúpulos, também estão em grandes empresas, sugando dinheiro e tornando a vida dos colegas um inferno.


A habilidade para mentir despudoradamente sem levantar suspeitas faz com que eles se dêem bem já nas entrevistas de emprego. O charme que eles simulam ajuda a conquistar a confiança dos chefes e a pressionar para que colegas que atrapalham sua ascensão profissional acabem demitidos. Não raro, costumam ocupar os cargos hierárquicos mais altos.


O psicólogo ocupacional Paul Babiak cita o exemplo de Dave, um executivo de uma empresa americana de tecnologia. Logo na primeira semana, o chefe notou que ele gastava mais tempo criando picuinhas entre os funcionários do que trabalhando e plagiava relatórios sem medo de ser pego. Quando o chefe recomendou sua demissão, Dave foi reclamar aos chefes do seu chefe. Com sua lábia, conseguiu ficar dois anos na empresa, sendo promovido duas vezes, até causar um rombo na firma e sua máscara cair. "Certamente há mais psicopatas no mundo dos negócios que na população em geral", diz o psiquiatra Hare, que escreveu com Babiak o livro Snakes in Suits – When Psychopaths Go to Work ("Cobras de Terno – Quando Psicopatas vão Trabalhar", inédito no Brasil). Para ele, sociopatas corporativos são responsáveis por escândalos como o da Enron, em 2002, quando a empresa americana mentiu sobre seus lucros para bombar preços de ações. "O poder e o controle sobre os outros tornam grandes empresas atraentes para os psicopatas", diz.


O que fazer?


Seja nas empresas, nas ruas, ou numa casinha de sapê, nossos amigos com transtorno anti-social são tecnicamente incapazes de frear seus impulsos sacanas. Mas, para os psiquiatras, essa limitação não significa que eles não devam ser responsabilizados pelo que fazem. "Psicopatas têm plena consciência de que seus atos não são corretos", afirma Hare. "Apenas não dão muita importância para isso." Se cometem crimes, então, devem ir para a cadeia como os outros criminosos.


Só que até depois de presos psicopatas causam mais dores de cabeça que a média dos criminosos. Na cadeia, tendem a se transformar em líderes e agir no comando de rebeliões, por exemplo. "Mas nunca aparecem. Eles sabem como manter suas fichas limpas e acabam saindo da prisão mais cedo", diz Antônio de Pádua Serafim.


Por conta disso, a psiquiatra forense Hilda Morana foi a Brasília em 2004 tentar convencer deputados a criar prisões especiais para psicopatas. Conseguiu fazer a idéia virar um projeto de lei, que não foi aprovado. Nas prisões brasileiras, não há procedimento de diagnóstico de psicopatia para os presos que pedem redução da pena. "Países que aplicam o diagnóstico têm a reincidência dos criminosos diminuída em dois terços, já que mantêm mais psicopatas longe das ruas", diz ela. Tampouco há procedimentos para evitar que psicopatas entrem na polícia – uma instituição teoricamente tão atraente para eles quanto as grandes empresas. Também não há testes de psicopatia na hora de julgar se um preso pode partir para um regime semi-aberto. Nas escolas, professores não estão preparados para reconhecer jovens com o transtorno.


"Mesmo dentro da psiquiatria existe pouca gente interessada no assunto, já que os psicopatas não se reconhecem como tal e dificilmente vão mudar de comportamento durante a vida", diz o psiquiatra João Augusto Figueiró, de São Paulo. Também não existem tratamentos comprovados nem remédios que façam efeito. Outro problema: quando levados a consultórios, os psicopatas acabam ficando piores. Eles adquirem o vocabulário dos especialistas e se munem de desculpas para justificar seu comportamento quando for necessário. Diante da falta de perspectiva de cura, quem convive com psicopatas no dia-a-dia opta por vigiá-los o máximo possível. É o que faz a dona-de-casa Norma, do Guarujá, com o filho Guilherme. "Enquanto eu e o pai dele estivermos vivos, podemos tomar conta", diz. "Mas... e depois?"


"Ele mentia muito. Armava um teatro para nos transformar em culpados. Não tinha apego nem responsabilidade. Não evitava falar coisas que deixassem os outros magoados. Nunca pensou que, se fizesse alguma coisa ruim, os pais ficariam bravos. Na escola, ele não obedecia a ordens. Se não queria fazer a lição, não tinha ninguém que o convencesse. A inteligência dele até era acima da média, mas um mês ele tirava 10 em tudo e no outro tirava 0. Dos 3 aos 25 anos, ele rodou comigo por psicólogos. Foi uma busca insana. Começamos a tratar pensando que era hiperatividade, ele tomou antidepressivos e outros remédios. Nada deu certo. Pessoas como o meu filho conseguem manipular psicólogos com facilidade. E os pais se tornam os grandes culpados. Quando descobri o problema, com uma psiquiatra, foi uma luz para mim. Hoje sei que pessoas como ele inventam um mundo na cabeça. É um sofrimento para os pais que convivem com crianças ou com adultos assim. Hoje, temos que vigiá-lo e carregá-lo pela mão para tudo que é canto. Senão, ele rouba coisas ou arma histórias. Fica 3 meses em cada emprego e pára, diz que não está bom. O problema nunca é com ele, sempre os outros é que estão errados. Eu ainda torço para que tenha um remédio, porque viver assim é muito ruim. Se está tudo bem agora, você não sabe qual vai ser a reação daqui a 5 minutos. É como uma bomba relógio, uma panela de pressão que vai explodir. Nunca dá pra saber exatamente o que ele pensa nem para acreditar em alguma coisa que ele promete. Às vezes penso que deveriam criar uma sociedade paralela só para sociopatas, mas uns matariam os outros, com certeza. Para não correr o risco de botar no mundo outra pessoa dessas, convencemos nosso filho a fazer vasectomia. Dói muito dizer que seu filho é um psicopata, mas fazer o quê? Matar você não pode. Tem que ir convivendo na esperança de que um dia a medicina dê conta de casos assim."


*Depoimento de Norma, 50 anos, dona-de-casa do Guarujá (SP), mãe de Guilherme, 28, diagnosticado como psicopata.


Charme


Tem facilidade em lidar com as palavras e convencer pessoas vulneráveis. Por isso, torna-se líder com frequência. Seja na cadeia, seja em multinacionais.


Inteligência


O QI costuma ser maior que o da média: alguns conseguem se passar por médico ou advogado sem nunca ter acabado o colegial.


Ausência de culpa


Não se arrepende nem têm dor na consciência. É mestre em botar a culpa nos outros por qualquer coisa. Tem certeza de que nunca erra.


Espírito sonhador


Vive com a cabeça nas nuvens. Mesmo se a situação do sujeito estiver miserável, ele só fala sobre as glórias que o futuro lhe reserva.


Habilidade para mentir


Não vê diferença entre sinceridade e falsidade. É capaz de contar qualquer lorota como se fosse a verdade mais cristalina.


Egoísmo


Faz suas próprias leis. Não entende o que significa "bem comum". Se estiver tudo ok para ele, não interessa como está o resto do mundo.


Frieza


Não reage ao ver alguém chorando e termina relacionamentos sem dar explicação. Sabe o cara que "foi comprar cigarro e nunca mais voltou?" Então.


Parasitismo


Quando consegue a confiança de alguém, suga até a medula. O mais comum é pedir dinheiro emprestado e deixar para pagar no dia 31 de fevereiro.


The Psychopath - James Blair e outros, Blackwell, EUA, 2006
Without Conscience - Robert Hare, Guilford, EUA,1993
The Sociopath Next Door - Martha Stout, Broadway, EUA, 2005


Superinteressante

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